quinta-feira, 17 de maio de 2018

Manifesto do presidente João Goulart, 24 de agosto de 1964: “Ninguém impedirá o povo de construir o desenvolvimento”

Publicação completa do manifesto de Jango aos brasileiros, feito em 24 de agosto de 1964.

Fonte: http://horadopovo.org.br/joao-goulart-ninguem-impedira-o-povo-de-construir-o-desenvolvimento/


O presidente com os filhos João Vicente Goulart e Denise Goulart
POR JOÃO GOULART

Faz hoje dez anos que a Nação, traumatizada, assistiu ao supremo sacrifício de Getúlio Vargas. Nunca deixei de me dirigir a todos vós, neste dia, que está definitivamente incorporado à nossa história, marcando, no Brasil republicano, o instante heroico do saudoso estadista que empenhou a própria vida para conter as terríveis forças do obscurantismo e para que pudéssemos prosseguir na dura caminhada da libertação do nosso povo e da nossa Pátria. É, pois, a luta do povo pela liberdade e pela conquista das reformas estruturais profundas e cristãs da sociedade brasileira que, mais uma vez, conduz ao encontro dos vossos anseios e das vossas mais aflitas esperanças.

Deixo, assim, no exílio em que me acho, o silêncio a que me havia imposto para voltar à intimidade honrada dos vossos lares, muitos já violados, dos vossos sindicatos, oprimidos; das vossas associações, atingidas pelo ódio da reação, com uma palavra de advertência, mas, sobretudo, de fé inquebrantável no destino do nosso país. Esta palavra já não parte do Presidente da República. Não vos posso, também, dirigi-la da praça pública, onde tantas vezes nos encontramos. Dominam a Nação o arbítrio e a opressão.

A reconquista das liberdades democráticas deve constituir o ponto básico e irrenunciável da nossa luta, a luta corajosa do povo brasileiro para a emancipação definitiva do Brasil. Duas vezes preferi o sacrifício pessoal de poderes constitucionais à guerra civil e ao “ensanguentamento” da Nação. Duas vezes evitei a luta entre irmãos. Só Deus sabe quanto me custou a deliberação a que me impus e pude impor a milhões de patriotas.

Em 1961, tolerei as maquinações da prepotência e consenti na limitação de poderes que a Constituição me conferia, para, depois, restaurá-los democraticamente, pela livre e esmagadora deliberação da vontade popular. Nunca recorri à violência. Os tanques, os fuzis e as espadas jamais, historicamente, conseguiram substituir, por muito tempo, a força do direito e da justiça. A função que a Constituição lhes impõe é a defesa da soberania do país e de suas instituições e nunca a tutela do pensamento do povo, para suprimir e esmagar suas liberdades, como pretendem alguns chefes militares.

Este ano, depois de recusar-me à renúncia que nunca admiti, resolvi, pelo conhecimento real da situação militar, não consentir no massacre do povo. Não só porque contrariava minha formação cristã e liberal, mas porque eu sabia que o povo estava desarmado. Eu sabia que a subversão, fartamente denunciada e muito bem paga, na profusão de rádios, jornais e televisão, era o preparo da mentira do perigo comunista, que iria constituir o ponto de partida para concretização da quartelada, a fim de que, assim, pudessem esmagar as justas aspirações populares que o meu Governo defendia. Baniram, ditatorialmente, o direito de defesa; humilharam a consciência jurídica nacional; suprimiram o poder dos tribunais legítimos. Invadiram universidades, queimaram bibliotecas; não respeitaram sequer as mesmas igrejas onde antes desfilavam as contas de seus rosários. Trabalhadores, estudantes, jornalistas, profissionais liberais, artistas, homens e mulheres são presos pelo único crime da opinião pública, da palavra ou das ideias. Cassam centenas de mandatos populares. Porventura são trapos de papel os compromissos internacionais que assumimos na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Carta organizatória das Nações Unidas?

Pessoalmente, tudo posso suportar, como parcela do meu destino na luta da emancipação do povo brasileiro. O que não posso é calar diante dos sofrimentos impostos a milhares de patrícios inocentes e do esmagamento das nossas mais caras tradições republicanas. Hoje, lançam contra mim toda a sorte de calúnias. Sei que continuarão a injuriar-me. Mas o julgamento que respeito e que alguns temem é o do povo brasileiro. É possível que haja cometido erros no meu Governo. Erros da contingência humana. Mas tudo fiz para identificar-me com os sentimentos do povo e da Nação e posso afirmar que assegurei a todos os brasileiros, inclusive a meus adversários, o exercício mais amplo das liberdades constitucionais. Deus não faltará com seu apoio à energia do povo para a reconquista de suas liberdades. Ninguém impedirá o povo de construir o desenvolvimento nacional e dirigir o seu próprio destino.


Tudo fiz por um Governo democrático e justo, no qual se processassem, pacificamente, com a colaboração dos órgãos legislativos, as transformações essenciais da sociedade brasileira; quis um Governo que incorporasse à família nacional, com acesso aos benefícios da civilização do nosso tempo, os milhões de patrícios humildes do campo e as áreas marginalizadas da população urbana; empenhei-me por um Governo que exprimisse os anseios legítimos dos trabalhadores, dos camponeses, dos estudantes, dos intelectuais, dos empresários, dos agricultores, do homem anônimo da rua para, todos juntos, travarmos a difícil luta contra a miséria, a doença, o analfabetismo, o desemprego e a fome. Sobre mim recaiu, então, todo o ódio dos interesses contrariados.

Promovi o reatamento de relações diplomáticas com as nações do mundo e assumi a responsabilidade de alargar nossos mercados, no interesse único da economia do país e do bem-estar do nosso povo. Executei uma política externa independente. Condenamos o colonialismo, sob qualquer disfarce, defendendo os princípios da não-intervenção e da autodeterminação dos povos. Nunca transigi com a dignidade do meu país e o respeito à sua soberania. Hoje, representantes estrangeiros interferem publicamente nos assuntos internos do país ou conhecidas organizações monetárias internacionais fixam, unilateralmente, condições humilhantes, em cláusulas de negociações, para ajudas ilusórias que, internamente, agravam o sofrimento do nosso povo e, externamente, aviltam os preços dos nossos principais produtos de exportação. E já se fala na execução de acordos que abrirão o caminho legal para a instalação, em nosso território, de importantes bases militares, sob o controle e o comando de outras nações.

Decretei, brasileiros, a regulamentação da lei de disciplina do capital estrangeiro. Decretei o monopólio da importação do petróleo e a encampação das refinarias particulares. Decretei a desapropriação de terras, objeto de especulação do latifúndio improdutivo. Decretei a implantação da empresa brasileira de telecomunicações. Lutei pela Eletrobrás. Decretei a limitação dos aluguéis, dos preços dos remédios, dos calçados, das matrículas escolares, dos livros didáticos. Hoje, os aumentos incontrolados do custo das utilidades indispensáveis à vida do povo atingem limites insuportáveis.

Promovi, por todos os meios, campanha intensiva de educação popular, para suprimir o analfabetismo em nossa Pátria. Estimulei os investimentos que promovessem maiores oportunidades de trabalho. Quis vencimentos dignos para todos os servidores públicos, civis e militares. Assegurei aos trabalhadores do campo o direito legal de organizarem seus sindicatos e defendi o salário real de todos os brasileiros, que deve acompanhar a elevação do custo de vida, respeitando a liberdade constitucional dos seus movimentos reivindicatórios legítimos.

Bati-me pelas reformas de base, para que o Congresso as votasse democrática e pacificamente. Muitas vezes pedi a colaboração de suas lideranças partidárias. Nada foi possível obter. Mas ninguém se engane. As reformas estruturais, que tudo empenhei por alcançar, rigorosamente dentro do processo constitucional, nenhuma força conseguirá detê-las e nada impedirá a sua consecução. Neste dia, brasileiros, longe de todos, o pensamento voltado para a memória de Getúlio Vargas, que tombou sacrificado pelas mesmas forças que hoje investem contra mim, reflito sobre as permanentes verdades que o admirável estadista denunciou em sua Carta-Testamento, e anima-se a confiança que tenho no futuro do meu país. Não posso concebê-lo presa da intolerância, da tirania, da ilegalidade, que são atitudes repudiadas pelos sentimentos generosos de nossa gente.

Sem ressentimentos na alma, sem ódios, sem qualquer ambição pessoal, conclamo todos os meus patrícios, todos os verdadeiros democratas, a família brasileira, enfim, para a tarefa de restauração da legalidade democrática, do poder civil e da dignidade das nossas instituições republicanas. Queremos um Brasil livre, onde não haja lugar para qualquer espécie de regime ditatorial, com uma ordem fundada no respeito à pessoa humana, no culto aos valores morais, espirituais e religiosos do nosso povo. Queremos um Brasil justo, progressista, capaz de assegurar confiança ao trabalho e à ação de todos os brasileiros. Queremos um Brasil fiel às origens de sua formação cristã e de sua cultura, libertado da opressão, da ignorância, da penúria, do atraso, do medo, da insegurança.

Deus guiará o povo brasileiro para os objetivos patrióticos de nossa luta.

ONU condena o massacre de palestinos feito por Israel - Jornal Hora do Povo

Link: http://horadopovo.org.br/onu-condena-o-massacre-de-palestinos-feito-por-israel/

Para EUA, Israel demonstrou “contenção” ao ferir 2771 e matar 60, incluindo bebês. Foto: AFP

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos denunciou a “matança indiscriminada” de civis palestinos desarmados em Gaza cometida por Israel, que passou de 60 em dois dias, inclusive um bebê de oito meses: “Parece que qualquer um pode ser assassinado ou ferido; mulheres, crianças, repórteres, pessoal médico, se eles se aproximarem mais de 700 metros da cerca. Eles atiraram em um amputado duplo. Qual é a ameaça de um amputado?”, afirmou o porta-voz, Rupert Colville, na sede, em Genebra.

“O uso de força letal deve ser o último recurso, não o primeiro, e deve responder a uma ameaça à vida. A tentativa de pular ou danificar uma cerca, ou lançar coquetéis molotov não é claramente uma ameaça de morte”, ressaltou o porta-voz da ONU. Ele acrescentou que “não é aceitável dizer que ‘isso é o Hamas e portanto isto está OK”.

O massacre, cometido em meio à celebração da inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém em violação da lei internacional, isolou Israel de uma forma sem precedentes. Já a embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Halley, declarou que “nenhum país teria agido com tanta contenção quanto fez Israel”.

Esdrúxula tese repelida prontamente pelo relator especial da ONU sobre os Direitos Humanos na Palestina ocupada, Michael Lynk, que considerou o fato um “crime de guerra”. “Este uso flagrante de força excessiva por Israel – um olho por um fio de pestana – tem de terminar, e o comando político e militar que ordenou ou permitiu essa força precisa ser imputado”.

Na terça-feira, o povo palestino atendeu à convocação da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), de greve geral, com atos de protesto na margem ocidental e em Gaza. Sob enorme comoção, as famílias enterraram os mártires da nova investida de Netanyahu, inclusive a bebê Leila Anwar Al Ghandour, de oito meses.

Os números do massacre são estarrecedores: 60 civis palestinos mortos em um só dia – sete são crianças -, 107 mortos desde o início dos protestos em 31 de março e 11 mil feridos. Há 130 civis em estado grave do assalto desta segunda-feira e quase 3 mil feridos superlotam os hospitais. As balas dos franco-atiradores israelenses, que causam uma pequena ferida na entrada, deixam um buraco do tamanho de um punho na saída. Ossos são pulverizados.

Como disse o pai de um mártir dessa véspera da Nakba – Dia da Catástrofe, do início da limpeza étnica na Palestina que criou 5 milhões de refugiados – (veja matéria), a questão palestina estava ultimamente “deixada de lado” mas agora “voltou à linha de frente”. O massacre impiedoso de civis desarmados, em paralelo com a inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém, com presença da filha e genro de Trump, traduziu instantaneamente, para o planeta inteiro, o que é o apartheid israelense na Terra Santa.

CHAMPAGNE E APARTHEID

Até a CNN percebeu: “nos canais de notícias da TV, imagens de Gaza apresentadas ao lado da cerimônia de inauguração da embaixada em Jerusalém, formavam uma chocante justaposição de protestos contra aplausos, gritos contra discursos, e indignação contra celebração”. Champagne e apartheid, de um lado, massacre de civis palestinos desarmados, de outro. É “a foto do ano”, admitiu um ministro de Theresa May.

O isolamento de Israel alcançou um patamar sem precedentes. A África do Sul chamou de volta seu embaixador. O nível de psicopatia atingido por diplomatas israelenses na defesa do morticínio forçou líderes ocidentais a expressarem sua inconformidade. O chanceler belga, Didier Reynders, precisou chamar a embaixadora de Israel, Simona Frankel, após esta dizer que os palestinos que foram mortos no dia 14 eram “terroristas, 55 terroristas”. “Estou chocado”, confessou o primeiro-ministro belga, Charles Michel.

Com todas as televisões dando 60 palestinos mortos e quase 3 mil feridos em Gaza pelas balas e gás israelense, outro débil-mental, o embaixador de Tel Aviv em Londres, Mark Regev, asseverou em entrevista que o uso da força por Israel foi “comedido” e “cirúrgico”. Já para o ladrão de terras palestinas, Danny Danon, que atualmente dá plantão na ONU, os violentos são os palestinos, “Israel só se defende”.

A pedido do Kuwait, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu em caráter de emergência mas, com Trump de cão de guarda do apartheid israelense, não chegou a ser aprovada a proposta de criar uma comissão de investigação do massacre de Gaza.

SERGEI  LAVROV

O ministro de Assuntos Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, expressou na quarta-feira (16) estar  “profundamente alarmado” pela selvagem repressão aos protestos do povo palestino pelas forças israelenses. “Não posso aceitar que dezenas de civis, incluídas crianças, bebês, que foram assassinados na Faixa de Gaza, sejam terroristas. Considero que esta é uma declaração blasfema, que está desenhada para se distanciar de um diálogo honesto e sério”, afirmou.

O governo da China reiterou que condena “o uso da violência contra civis” e pediu “contenção”. Segundo o porta-voz da chancelaria, Lu Kang, Pequim apoia “a causa justa do povo palestino para restaurar seus legítimos direitos nacionais e o estabelecimento de um Estado da Palestina totalmente soberano e independente, nas fronteiras de 1967 e Jerusalém Oriental como capital”.

A premiê inglesa Theresa May se declarou “profundamente perturbada” pelo “uso de munição real por Israel e pela escala da violência”. A França condenou o massacre e a transferência de embaixada para Jerusalém, assinalando que o status da cidade só pode ser determinado entre as partes, sob os auspícios da comunidade internacional.

Até o contestado presidente turco, Recip Erdogan, pegou de jeito o chefe do massacre, Netanyahu: “é o primeiro-ministro de um Estado de apartheid, que tem ocupado há mais de 60 anos um povo indefeso em violação das resoluções da ONU, e tem sangue palestino em suas mãos”. “Quer uma lição de humanismo? Leia os 10 Mandamentos”.

ANTONIO PIMENTA